terça-feira, 10 de novembro de 2015

Quando tudo isso acabar


Ele deu um passo para trás e empurrou minhas mãos com os braços.– O que foi isso? – perguntou em tom agressivo e com olhos assustados.– Eu não sei.– Você me beijou – ele vociferou. – Por que você me beijou?Porque eu não pensava em outra coisa, respondi mentalmente.
Diego tinha no olhar uma fusão de sentimentos inquietos e desorientados, como se tentasse colocar cada coisa em seu lugar, mas não soubesse por onde começar.– Por que você me beijou, Caio?– Porque eu gosto de você – respondi, jogando-me sobre o sofá.– Você gosta de mim?– Mais do que isso. Eu amo você.Era horrível admitir que estava apaixonado por ele. Sentia-me estúpido. De todos os momentos possíveis, eu tinha escolhido o pior. Minhas chances tinham se esgotado. Eu sabia que não era justo esperar outra coisa senão a sua rejeição.– Você não pode fazer isso comigo...Diego colocou as mãos sobre a face e começou a andar pela sala.– Não precisa fazer nada. Esqueça isso. Esquece esse beijo.Então seus olhos aflitos e confusos fitaram os meus, deixando transparecer também um pouco de impaciência e desprezo. Diego detestava ser subestimado, como se precisasse ser convencido a respeito dos próprios sentimentos e decisões. Ninguém mais do que ele sabia que era preciso esquecer.– Eu não tenho outra escolha, Caio.Ele pegou a mochila, colocou-a sobre as costas e passou pela porta, deixando-me sozinho.Ao vê-lo se afastar fui invadido por um medo sem fim. Eu não sabia como as coisas funcionavam sem ele. Era muito improvável imaginá-lo ausente das minhas horas, dos meus dias e de cada semana que eu pudesse viver. Diego fazia parte da minha rotina, dos momentos mais triviais e das lembranças mais banais. Tudo o que havia de mais simplório e ordinário me fazia pensar nele. Por isso eu estava apavorado. Se ele fosse uma parte extraordinária da minha existência, talvez seria mais fácil transformá-lo apenas em memória.Levantei-me do sofá e corri para não deixá-lo partir daquela maneira.Diego estava sentado do lado de fora da casa, com os cotovelos sobre os joelhos e o rosto enterrado nas mãos. Com a sola dos tênis, ele batia no piso aceleradamente, revelando sua angústia.Aproximei-me dele, coloquei os joelhos no chão e pousei a mão sobre seu ombro.– Não precisa ficar assim. Nada vai mudar. A gente vai se amar sempre.Minhas palavras soaram tão artificiais e presunçosas que eu achei melhor ficar calado e desistir de tentar consertar as coisas. Nada que eu dissesse tornaria aquele momento menos doloroso.Ele virou o rosto, encarou-me de um jeito severo, mas falou com brandura:– Eu gostei de você a vida toda, Caio. Eu sempre amei você. Mas agora...– Agora você está indo embora, mas vai voltar.– E se eu não voltar?Examinei seu rosto e, mais uma vez, não consegui compreender como seria possível viver sem ele. Por que eu demorei tanto pra perceber que quero você pra sempre?– Se você não voltar...Então abaixei a cabeça e fechei os olhos. Eu já não poderia fugir da realidade. Talvez eu estivesse com ele pela última vez. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.Diego ficou de joelhos e me envolveu com seus braços, colocando a cabeça sobre o meu ombro. Eu também o abracei com força, passando minhas mãos pelas suas costas e pescoço. Senti o perfume que estava nele e desejei jamais esquecer o seu cheiro.– Eu estou com medo – ele falou apavorado.Eu também estava, mas procurei as palavras certas e falei com segurança:– Vamos ficar juntos, quando tudo isso acabar.Seu hálito aqueceu o meu pescoço e eu senti um desejo pulsante de beijá-lo.Mas escolhi abraçá-lo ainda mais forte, como se pudesse guardá-lo dentro de mim.– Eu amo muito você.Diego colocou as mãos em meu rosto, acariciando minha barba. Sorrindo pela primeira vez naquele dia, ele sussurrou como se estivesse confessando:– Eu sempre quis ouvir isso.– Então eu repito: te amo, te amo, te amo!Ele riu baixinho, mas depois sua expressão ficou séria.– Talvez eu volte diferente.– Não importa. Vou te amar ainda mais.Abraçando-me mais forte, Diego chorou tudo o que tinha contido até então.Minhas mãos afagaram seus cabelos e eu me esforcei para não fraquejar.No minuto seguinte, ouvimos o som de uma buzina. Agora estava na hora.Ficamos de pé e mais uma vez passei os braços ao redor dele.– Eu te amo – ele sussurrou em meu ouvido.Depois começou a descer as escadas, virando o rosto para me olhar até chegar no último degrau.– Espera por mim, por favor – então pediu, controlando o choro.– Eu já estou esperando você.Quando ele entrou no carro, olhamo-nos mais uma vez e Diego sorriu.Depois de vê-lo partir, permiti-me chorar de verdade.Por favor, espera por mim, eu também pedi.